O aparecimento de lesões na pele é um relevante sintoma para o diagnóstico de casos de varíola dos macacos. Ao notar o surgimento delas, deve-se evitar contato próximo com outras pessoas e procurar um serviço de saúde, indicam especialistas.
As feridas podem, no entanto, gerar confusões. Afinal, a lesão que surgiu na pele foi causada pela doença que provoca um surto de proporções mundiais ou tem como origem outra condição de saúde?
A dúvida ocorre porque as vesículas — bolhas com líquido dentro — comuns à varíola dos macacos são manifestações parecidas às relacionadas a outros problemas de saúde, afirma Egon Daxbacher, coordenador do departamento de doenças infecciosas e parasitárias da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
“Essa apresentação não é rara na dermatologia”, completa.
As confusões ficam ainda mais propensas a acontecer porque há registros recentes de casos de varíola dos macacos em que as lesões surgem somente na região genital. Nos pacientes documentados em infecções anteriores, as vesículas normalmente surgiam também em outras partes do corpo.
Dexbacher diz que, quanto mais concentradas estiverem as vesículas, maior a probabilidade de confusão com outras condições clínicas. Uma delas é a herpes, infecção que atinge principalmente os lábios e as genitálias.
“A herpes é mais localizada e apresenta um grupo de lesões de bolhas de água que depois evoluem para feridas. Então, é uma doença passível de confusão”, afirma o dermatologista.
As manifestações diferentes da varíola dos macacos e os equívocos que isso pode gerar também chamam a atenção de Jamal Suleiman, infectologista do Hospital Emílio Ribas, referência no atendimento de casos da doença. “Temos visto aqui pessoas com uma única lesão na cabeça do pênis”, afirma.
Ele cita o caso de um paciente com lesão na boca que podia ser facilmente confundida com a da varíola dos macacos. A pessoa tinha sido de fato infectada pelo vírus monkeypox. Mas as feridas na boca eram resultado de uma infecção simultânea de sífilis em seu estágio primário, momento em que a doença causa uma ou poucas feridas localizadas na região em que a bactéria acessou o organismo humano.
“Não temos só a varíola dos macacos. Existem várias outras doenças, até porque pode haver concomitância com outras infecções”, diz Suleiman.
A sífilis secundária também pode ocasionar dúvidas. Nesse momento da infecção bacteriana, as lesões aparecem em diferentes partes do corpo. Como a varíola dos macacos pode causar as vesículas em outros membros do paciente, as confusões são factíveis de acontecer.
A catapora também pode gerar dúvidas em pacientes, assim como o herpes-zóster, condição causada pelo mesmo vírus da catapora que permanece em latência durante a vida do indivíduo infectado e depois pode ser reativado.
Os sintomas da varíola dos macacos ainda podem ser confundidos, em casos mais raros, com bactérias do gênero estafilococos. Dexbacher explica que esses micro-organismos causam bolhas na pele parecidas com as observadas em casos de varíola dos macacos.
EVITAR OS EQUÍVOCOS
Uma forma importante para evitar confusões da varíola dos macacos com outras doenças é observar o desenvolvimento de outros sintomas. Uma delas são as ínguas, protuberâncias ocasionadas pelo aumento dos gânglios linfáticos.
“O surgimento das ínguas é uma característica muito descrita na varíola dos macacos”, afirma Dexbacher. Segundo ele, a condição não é muito comum nas outras doenças que podem ser confundidas com monkeypox.
O desenvolvimento de febre e mal-estar também são sintomas recorrentes em casos de varíola dos macacos que não necessariamente se repetem em outras complicações. “Quando se junta tudo febre, apresentação dermatológica e ínguas, a suspeita fica muito grande para varíola dos macacos”, afirma o dermatologista.
Suleiman afirma que é difícil diferenciar as doenças porque os quadros clínicos causados por monkeypox estão muito variáveis. “Não tem um padrão de que vai aparecer febre ou inchaço dos gânglios.”
Ele explica que é importante entender o histórico do paciente suspeito para varíola dos macacos. Um ponto, por exemplo, é identificar se a pessoa teve contato próximo com alguém infectado pelo vírus.
“Muito provavelmente vamos ter algumas situações [da varíola dos macacos] que nós não tínhamos visto. Estamos aprendendo agora sobre a evolução da doença”, diz.
Por isso, o infectologista afirma que o mais importante é ficar atento para observar o aparecimento de sintomas da varíola dos macacos. Caso sim, é necessário já tomar medidas de isolamento social e procurar uma assistência médica para acessar o diagnóstico exato.
“Esse conhecimento está em construção e todos temos que ter resiliência para buscar informação correta. Enquanto isso, a recomendação é, ao ter suspeita, já fazer isolamento e procurar um serviço de saúde”, conclui.
por Samuel Fernandes, da Folhapress